Sonhos digitais
Os cineastas do início da década de 1960 os adoravam. Os computadores.
Grandes bancos de dados alojados em caixas altas, cinzentas, com Pitas girando em rodas de plástico, meticulosamente guardados por homens de ar professoral.
Embora os computadores ocupassem edifícios, geralmente projetos miesianos, eles, por outro lado pareciam gerir muitos dos aspectos mais sinistros da vida do fim do século XX
— especialmente a guerra nuclear —
(como o computador Alpha 60 , em Alphaville, de Jean-Luc Godard, ou o HAL 9000 , que sofre um colapso em 2001:
Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick), eles, curiosamente, pareciam não ter nenhum efeito sobre os edifícios em si.
As primeiras aplicações do que foi chamado CAD (computer-aided design — design auxiliado por computador)
pareceram, de fato, ter pouco ou nenhum efeito sobre a estética ou a natureza dos edifícios.
No entanto, ajudavam arquitetos, a maioria deles ocupados com projetos rápidos de edifícios de escritórios para
alugar ou estacionamentos de carros, a produzir esboços com rapidez.
Se o computador foi uma ferramenta na década de 1980 , foi, sem dúvida, uma ferramenta bruta — uma pá ou
picareta — nas mãos da maioria dos arquitetos.
Dois dos primeiros edifícios importantes a mostrar como o computador podia não apenas auxiliar na feitura de
projetos complexos, mas também efetivamente sugerir que aparência podiam ter e como deviam ser construídos
foram o Aeroporto Internacional de Kansai, Baía de Osaka, Japão(1988-1994), da Building Workshop, de Renzo
Piano, e o Museu Guggenheim, Bilbao (1993-1997), de Frank Gehry.
O Aeroporto de Kansai é notável, pois possui um terminal de 1,6km, que parece repousar delicadamente como uma cegonha na sua ilha artificial na baía de Osaka.
Honshu, a principal ilha do Japão, é montanhosa e com pouquíssimo espaço onde construir.
Fazer um novo aeroporto no mar fez todo sentido por duas razões: economizou
terras valorizadas e conservou o barulho dos aviões longe das comunidades existentes.
Além disso, o perfil e a engenharia complexos do terminal semelhante a uma asa projetado para suportar tufões, foi gerado tanto pela sugestão dos programas de computador quanto pela função e estética.
Como resultado, obteve-se um edifício altamente técnico, com linhas fluidas, elegantes, quase orgânicas. E fácil imaginar a sucessão de suas fases na tela do computador.
>>>>>>>AEROPORTO INTERNACIONAL DE KANSAI, BAÍA DE OSAKA, JAPÃO , 1988-1994
A curva baixa e delicada do teto aerodinâmico do edifício é permitindo que ele resista a furacões. Dentro, a forma do teto coberta com 90.000 painéis de aço inoxidável idênticos, permite que o ar circule livremente pelo terminal.
PROJETO COMPUTADORIZADO DE AEROPORTOS
O aeroporto de Kansai também marcou a maturidade de desenvolvimento de uma nova onda de terminais em que se celebram a natureza do vôo e a estética dos aviões. Assim, através dos quais os passageiros podiam, assim que adentravam o edifício, ver os aviões.
Nas décadas de 1980 e 1990 , o terminal aéreo foi frequentemente visto por seus proprietários como uma forma de shopping center com aviões fora nalgum lugar do campo de visão.
Os melhores aeroportos da década de 1990 , fora o de Piano, foram o segundo terminal, em Stansted, Londres, e o de Hong Kong, ambos projetados pelo escritório de Foster.
Os mesmos princípios foram, portanto, aplicados a Hong Kong e Stansted: rotas desimpedidas através do edifício, uso máximo da luz do dia e uma aparência digna das ambições dos pioneiros da aviação e de seus sucessores.
SONHOS CIBERNÉTICOS
Neste início de século, o uso de computadores na arquitetura tornou-se lugar-comum.
Jovens arquitetos chineses, por exemplo, saídos diretamente da faculdade, encontram-se,
em cozinhas minúsculas em Shenzen e Guangzhou, projetando no laptop as fachadas de torres de escritórios instantâneas.
Eles retiram imagens de torres de todo o mundo, encontradas em revistas vistosas,
e, em seguida, as escaneiam e esticam as imagens vertical ou horizontalmente para que se ajustem à estrutura de concreto do mais recente bloco de escritórios chinês.
Consequentemente, os resultados são construídos logo depois.
Um uso mais sutil dos computadores foi o de muitos jovens arquitetos em todo o mundo,
tentando criar novas formas de estruturas e espaço interno fluidos.
A tecnologia de novos materiais —
metais leves e policarbonatos — permite que os arquitetos se aproximem
do sonho da estrutura e do espaço infinitamente maleáveis.
Embora a realização de tais sonhos cibernéticos estivesse um pouco longe,
ainda é empolgante ver arquitetos tentando livrar-se das limitações impostas
pelas formas de estrutura e espaço que mudaram notavelmente pouco quanto aos termos fundamentais nos últimos 2.500 anos.