O Surgimento do Jardim Estilo Inglês
O jardim Estilo Inglês rompe com a retidão e a simetria das linhas e da distribuição dos maciços
arbóreo/arbustivos, que eram características predominantes nos outros estilos da época. Dessa forma, promove
uma nítida aproximação com a natureza.
Surgiu, de fato, no início do século XVIII na Inglaterra e foi, portanto, uma reação à formalidade do
estilo francês, que se caracterizava pela simetria e geometria bem definidas.
Características do Estilo
De acordo com Bellair & Bellair (1939), aspectos arquitetônicos utilizados no estilo são:
- Alamedas: As principais são largas e côncavas para facilitar o escoamento da água das chuvas e podem ser carroçáveis ou não, dependendo da importância do parque (Figura abaixo).

Geralmente, a alameda que contorna o gramado principal do parque, que fica defronte ao prédio, é carroçável e larga. Já as alamedas secundárias são estreitas e planas, e, na maioria das vezes, não são carroçáveis. (Figura abaixo).

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Bifurcações: Quando as alamedas que formam a bifurcação possuem a mesma importância (isto é, ambas são primárias ou secundárias), deve-se causar no observador uma sensação de indiferença. Para isso, a bifurcação das alamedas deve ser aberta exatamente na bissetriz da alameda que as formará (Figura abaixo).

Por outro lado, quando possuem importâncias diferentes, deve-se direcionar a alameda secundária para o lado contrário da curva, enquanto a primária deve continuar na curvatura em que já estava (Figura abaixo).

- Entrada do parque: Essa entrada é composta por uma alameda reta, com árvores plantadas ao longo do percurso, alinhadas e dispostas em grupos simétricos (Figura abaixo).

Para se chegar à edificação principal, sempre há dois caminhos. Entretanto, a entrada nunca deve ficar diretamente defronte à edificação. Caso não haja outra alternativa, deve-se, por motivos de segurança, implantar um maciço arbóreo na frente do portão de entrada. Dessa maneira, o observador que passa pelo parque não terá uma visão clara de seu interior. Ainda assim, as laterais desse maciço devem permanecer visíveis, para que a segurança da edificação seja mantida, permitindo o controle de quem adentra o recinto (Figura abaixo).

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Gramados: Apresentam características importantes:
- Extensão: Não depende somente das proporções do parque, mas também dos outros elementos (maciços, rochas, ruas, bosques etc.). É essencial reservar uma superfície grande para traçar as visadas, principalmente a visada principal, que parte da edificação. Assim, gramados longos e largos transmitem uma sensação de calma e conforto.
- Forma: Possuem estreita relação com a direção das alamedas, sendo estas responsáveis por determinar seus contornos. Geralmente, o gramado da frente do prédio tem formato oval, elíptico ou triangular curvilíneo, nunca trapezoidal.
- Relevo: A extensão e o contorno do gramado indicam a maneira como o terreno declina ou acliva, além de mostrar a presença ou ausência de pedras.

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- Rochas: Devem ser utilizadas com certa precaução. Como já mencionado, esses elementos não devem aparecer em jardins situados em terrenos planos, pois sua posição natural está em barrancos, ribanceiras ou grandes alturas. No entanto, podem ser incorporadas ao paisagismo por meio de trabalhos de terraceamento e escavação, inserindo os rochedos no relevo de maneira mais natural.
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Árvores: São elementos essenciais na decoração de um jardim paisagista e podem estar presentes no parque das seguintes formas:
- Florestas e bosques: No Estilo Francês, as árvores são plantadas agrupadas e densamente, formando bosques que são recortados simetricamente por caminhos. Em outros estilos, pode-se deixar uma abertura no bosque para permitir a visualização da edificação.Para criar um efeito mais pitoresco, recomenda-se modificar as cotas do terreno. Outra alternativa é deixar a borda do maciço recortada, com árvores plantadas fora de alinhamento e próximas ao maciço adensado. Isso cria um efeito mais naturalista. Por outro lado, também é possível manter um alinhamento de plantio em formato arredondado, conferindo um visual mais tradicional (Figura abaixo).



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Vistas: Há uma estreita ligação entre as árvores e as vistas.
Uma vista é uma superfície enquadrada, onde, ao fundo, há um objeto de interesse, como um monumento, uma colina, um grupo de árvores formando um ponto focal ou uma árvore isolada.
Para uma composição harmônica, três fatores devem ser considerados: o ponto de vista, o espaço livre até onde o olho do observador está posicionado e o quadro. Após escolher a paisagem a ser destacada, é recomendável posicionar árvores altas nos primeiros planos e árvores progressivamente menores nos planos sucessivos. Assim, cria-se um vasto espaço visual para a linha de vista (Figura abaixo).

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Flores: consideradas secundárias em relação às árvores.
Se as árvores encantam pela forma, as flores seduzem pelas cores. No entanto, mesmo quando se opta por espécies mais rústicas, a manutenção pode ser trabalhosa. Portanto, elas devem ser utilizadas estrategicamente, como na frente da edificação (Figura abaixo), diante dos maciços arbóreos ou em pontos de vista destacados, enfatizando a beleza do local.

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Águas: Em locais pouco acidentados, é possível criar um jardim com os elementos normais, como árvores, arbustos, gramados e flores. No entanto, em terrenos mais acidentados, com barrancos e concavidades, podem incorporar outros elementos como, como a água e as rochas.
Na natureza, as águas podem permanecer dormentes, cair, correr ou brotar. Como o Estilo Paisagístico Inglês busca imitar a natureza, deve-se tentar, ao máximo, criar cursos d’água com aspecto natural, modificando o relevo conforme necessário.
As águas dormentes (lagos) transmitem uma sensação de descanso, enquanto as águas correntes (cascatas) trazem dinamismo e movimento.
Em geral, lagos são mais adequados para grandes espaços, como parques públicos, enquanto águas correntes são para propriedades privadas de menor porte.
Por fim, o parque também deve contar com áreas destinadas à construção de estufas e casas de vegetação, permitindo a produção de floríferas vivazes e anuais para reposição nos canteiros. Isso contribui tanto para o embelezamento do parque quanto para a valorização da edificação principal.
BIBLIOGRAFIA
| BELLAIR, G.A.; BELLAIR, P.A. Parcs et jardins. Paris: Encyclopédie Agricole, 1939. 348p. | |
| LIMA, A.M.L.P. Nosso Parque faz 80 anos. Revista da ADEALQ, v.10, n.6, p.20-22, 1987. | |
| MERCADAL, F.G. Parques y jardines: su historia e sus trazados. Madrid: Afrodisio Aguado, 1949. v.4, 299p. | |
| MONTENEGRO, H.W.S. A arte de projetar jardins. Piracicaba: FEALQ, 1983. 134p. | |
| SANTOS, M.C. Manual de jardinagem. 2.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1975. 456p. |
[1][1] AFLOTECC – Assessoria Técnica e Consultoria S/C Ltda. Apostila de Curso – São Paulo, 1990. Não publicada
