A essência do espaço em paisagismo é diferente daquela da arquitetura e do urbanismo,
pois resulta de matéria-prima distinta, obtida de elementos e condicionantes da natureza.
Ar:
O ar, que tudo envolve e faz viver os seres, é o elemento que respiramos; de ar é o espaço, e o espaço é fundamental para a paisagem;
Água:
A água, que é sempre o centro das atenções do jardim, exerce fascínio sobre as pessoas, espelha o céu e proporciona tranquilidade, quando em superfícies horizontais sem movimento;
Fogo:
O fogo traz luz, calor e aconchego à noite, quando em tochas, piras, fogueiras e mesmo em lareiras ao ar livre;
Terra:
A terra, que é o hábitat da fauna e da flora, funciona como base de nossos projetos;
Flora:
A flora fornece o principal material de trabalho ao arquiteto paisagista;
Fauna:
A fauna vive e contribui para o equilíbrio das áreas ajardinadas;
Tempo:
O tempo, que é uma espiral ascendente, muda a paisagem, faz transformar, crescer e amadurecer o projeto de paisagismo ao longo das quatro estações e ao longo dos anos.
Portanto, trabalhando-se com esses elementos dinâmicos, não é possível nem desejável planejar ambientes geometricamente precisos e permanentes.
No jardim, sempre se deve ter em mente que as formas espaciais são fluidas, livres e instáveis, como uma bolha de ar que se expande com desenho caprichoso e imprevisível e se relaciona com uma bolha de ar maior, que é a abóbada celeste, o teto mais alto de todas as paisagens.
A arquitetura paisagística limita e subdivide os espaços. Mas esse trabalho não surge do nada, pois há sempre um espaço físico preexistente sobre o terreno que sofrerá intervenção e se estende pela paisagem do entorno. Os volumes vegetais e construídos propostos dividirão esse espaço inicial em unidades menores, que serão percebidas e vivenciadas em relação às maiores.
Para explicar o espaço paisagístico, aplica-se bem o antigo ditado chinês que diz que o importante não é a forma exterior do vaso, mas a forma do vazio que ele contém. Ou seja, o importante é pensar não somente nos cheios, no papel isolado das superfícies e dos volumes definidos pelas plantas, mas principalmente no que resulta entre elas, os vazios transformados em espaços, a partir dos elementos naturais, sem esquecer que eles são dinâmicos e mudam ao longo das estações e no correr dos anos.
Para um escultor, interessa o volume final de sua obra, e não o oco ou vazio que ela contém e geralmente ninguém vê. Em paisagismo, a situação é distinta. Interessa trabalhar com as tensões entre os vazios e os cheios na composição dos espaços; sem isso eles não existem. Interessa prever os espaços que serão usufruídos pelas pessoas, e não apenas o desenho puro e simples das massas vegetais, pois nos cheios ninguém vive.
Dependendo das extensões, alturas e luminosidades, cada espaço paisagístico pode transmitir as mais diferentes e contrastantes percepções. Pode sugerir aconchego, bem estar, paz, surpresa, grandiosidade, beleza e muito mais. E, por isso, dificilmente um jardim pode ser entendido de modo rápido ou de apenas um único ponto de vista.
0 projeto de paisagismo deve fazer uso do jogo de dissimular e mostrar certos elementos, fazendo com que os percursos sejam marcados por prazerosas descobertas.
A modelagem espacial diversificada por meio dos volumes vegetais e construídos é a base de um bom projeto paisagístico.
E por esse percurso que teremos sensações diferenciadas, incluindo a sensação de beleza. Mas desenhar bons espaços vai além disso. Há que se planejar o que estará acima de nossas cabeças, como os tetos na arquitetura, utilizando-se as copas das árvores, os pergolados, os caramanchões, etc. Deve-se pensar também no que estará na frente de nossos olhos, funcionando mais ou menos como paredes e balizas verticais: os arbustos, as árvores, os taludes, as rochas, as dunas, os morros, as montanhas, as grandes escadas e os muros. Igualmente importante na definição espacial será tudo aquilo sob os nossos pés: os gramados, os pisos, as pequenas
escadas, as rampas, as muretas, as superfícies de água, os elementos que podem se estender até o horizonte e encontrar as montanhas ou o céu.
Espécies vegetais com folhagem, formas ou porte marcantes podem se tornar esculturas, desde que colocadas isoladamente, deixando-se vazios ao redor para sua completa visualização. Sem isso, elas se tornam parte de maciços verdes e perdem a individualidade.
Quando bem altas, essas plantas recortam o horizonte e ganham presença contra o céu, vibrando com a mudança da luz solar ao longo das horas.
Referência: Livro Criando Paisagens – Benedito Abbud