Arquitetura Orgânica

A volta à natureza

O ESPÍRITO do díspar movimento verde na arquitetura poderia ser resumido na notável carreira de Imre Makovecz. Filho de um carpinteiro, Makovecz nasceu em Budapeste em 1935 . Quando criança, ajudou a
explodir tanques nazistas. Durante o levante húngaro de 1956 , contra as tropas (e tanques) invasoras da
União Soviética, foi preso e inicialmente condenado à morte. Na escola de arquitetura foi política e academicamente rebelde, pois protestava contra o impacto do design pré-fabricado de estilo soviético, que estava destruindo as principais cidades húngaras. Naturalmente religioso, Makovecz propunha, assim, uma arquitetura que ligasse o céu e a terra.

O DESENVOLVIMENTO DE UM ESTILO

Inicialmente, isso foi difícil, pois Makovecz foi eficazmente banido do trabalho em estúdios estatais e no ensino. Contudo, conseguiu um emprego trabalhando para a comissão florestal, onde, por sua vez, formou uma equipe de carpinteiros e jovens arquitetos, à qual ensinava durante viagens de trem pelo interior da Hungria.

Nas florestas ao norte do Danúbio, ele construiu abrigos de madeira, cabanas para esquiadores e outras pequenas edificações em um estilo orgânico que era, ao mesmo tempo, uma interpretação e uma reformulação complexas das idéias de Frank Lloyd Wright, de poetas húngaros, de Rudolf Steiner, Antoni Gaudí, Odón Lechner e de motivos húngaro-celtas, desde  coroas antigas a marcos funerários totêmicos.

Ao longo das décadas de 197 0 e 1980, Makovecz trabalhou com esse grupo nas comunidades de florestas e  margens de lagos. construindo, assim, salões comunitários na forma de gigantescas aves de rapina e outras criaturas.

Essas eram construções baratas (usando árvores como colunas), de fácil manutenção, que funcionavam como um revigorante ponto de referência para os habitantes, que, de fato, temiam a industrialização da Hungria rural.

No entanto, isso não aconteceu por causa da queda do comunismo.

Makovecz descreveu, portanto, seus projetos como “seres construtores”.

Assim, nenhum é inteiramente simétrico porque os humanos, a flora e a fauna não são simétricos.

Sua primeira obra a receber aclamação crítica (pela Architectural Review, em 1981 ) foi sua capela mortuária em Farkasret (1977), um subúrbio de Budapeste.

Era um modelo em madeira da caixa toráxica humana. Entre 1986 e 1989, ele projetou e construiu a expressiva igreja católica de Paks. Uma vigorosa igreja luterana em Siofok (1986-1989), na forma de asas abertas, foi construída ao mesmo tempo.
Após a queda do partido comunista, Makovecz tornou-se um herói local e foi escolhido para projetar o Pavilhão Húngaro — estrutura semelhante a uma igreja encimada com muitos campanários — na Expo Sevilha de 1992. Makovecz não estava inteiramente só.

Além de sua equipe, muitos arquitetos húngaros, notavelmente Gyorgy Csete (nascido em 1937), baseado em Pécs, infundiu um espírito orgânico e antiestablishment similar em um grupo de arquitetos e artesãos com ideias afins.

VISÕES PESSOAIS


Carlo Scarpa (1906-1978), um arquiteto veneziano impregnado pela rica tradição de sua cidade natal,
elaborou uma arquitetura próxima em espírito, mas nunca servil aos edifícios e paisagens mais antigos que realçou e aos quais se uniu de maneira orgânica.

Seu trabalho mais misterioso é o Túmulo Brion (1970), no cemitério de San Vito de Altivole, Asolo, simultaneamente formal e pessoal, integrado a seu ambiente.

Em Viena, o artista Friedensreich Hundertwasser (1928-2000) desenvolveu uma forma de blocos de apartamentos coloridos, de distribuição irregular, que parecem tirados das ilustrações de um livro infantil.

Em outras partes do ocidente, o desejo de moldar uma arquitetura próxima à natureza foi realizado com o uso de nova tecnologia
e novos materiais por um pequeno grupo de arquitetos que acreditavam que a nova tecnologia podia ser agradável e ecologicamente correta ao mesmo tempo.

 

Uma das iniciativas mais convincentes nesse campo foi a Future Systems (Jan Kaplicky, nascido em 1937 , e Amanda Levette, nascida em 1955),

fascinada com a leveza potencial dos materiais e tecnologias modernas.

Seguindo parcialmente os passos de Buckminster Fuller (ver p. 208), a Future Systems pesquisou formas belas que fossem leves, elegantes e que tocassem o chão tão delicadamente quanto possível.

Kaplicky ilustrou os conceitos no delicioso livro ilustrado que publicou, com imagens de insetos pousados na água, de módulos lunares da NASA na superfície da lua, de medusas, microluzes,abrigos de bambu e outros animais, organismos e formas de estrutura em que a leveza era tudo.

O objetivo era reduzir os materiais e a energia ao mínimo.

Assim, os projetos da Future Systems, de um lado, tinham a modernidade da era espacial, e na mesma medida, ajustavam-se bem a paisagens naturais. Isso porque suas formas eram — como as de Makovecz, mas em uma linguagem moderna, tecnológica — tiradas da natureza.

A Arca, um elegante centro de visitas e museu planejado para o Earth Centre,

um parque ecológico educacional em Doncaster, Inglaterra (com abertura originalmente programada para 2001), foi modelado na forma de uma borboleta gigante com asas translúcidas.

E, como o inseto mais brilhantemente colorido, prometia oferecer um contraste natural para a ondulante paisagem, outrora industrial, onde foi situada.

Um projeto ainda mais delicado foi uma casa de veraneio, escavada nas colinas de Pembrokeshire, Gales. Malator (1998), conhecida como a “Casa Teletubby”, por causa do programa infantil em que estranhos humanóides vivem em casas subterrâneas. Era um delicioso entrelaçamento da paisagem com uma arquitetura de materiais leves.

Hundertwasserhaus

CONDOMÍNIO LOWENGASS E E KEGELGASSE , VlENA, 1985
Neste condomínio municipal, o artista e arquiteto Friedensreich Hundertwasser

rompeu com as restrições convencionais dispondo faixas irregulares de cor e cúpulas em bulbo.

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