O paisagismo é a única expressão artística em que participam os cinco sentidos do ser humano.
Enquanto as demais artes plásticas usam apenas a visão, o paisagismo envolve também os outros sentidos, o que proporciona uma rica vivência sensorial.
Quanto mais um jardim consegue aguçar todos os sentidos, melhor cumpre seu papel. Mas como atuam os sentidos e como podem ser estimulados em paisagismo?
Visão:
A visão é um dos sentidos mais complexos do ser humano. Não é um recurso estático, e sim ágil e móvel. Passeia à vontade sobre os elementos que estão diante de si, sejam eles próximos ou distantes. Seu funcionamento pode ser explicado como um mecanismo que capta uma sequência de planos, que vão perdendo nitidez à medida que se
afastam.
A visão apreende com mais clareza o que está em primeiro plano e com menos definição o que está no segundo e terceiro planos. Por fim, atinge o fundo e percebe apenas uma mancha desfocada. Mais isso não ocorre sempre assim.
Para uma pessoa em movimento, esse fenômeno se inverte. O primeiro plano se move mais rapidamente que o segundo; o segundo plano, mais que o terceiro. E assim sucessivamente, de modo que quanto mais rápido é o deslocamento, menor é a nitidez do que está próximo. Os detalhes do primeiro plano acabam passando tão depressa que se tornam menos importantes do que o fundo.
Quando a visão focaliza os elementos vegetais, percebe as formas das copas, flores e folhas, dos caules e galhos. Investiga as inúmeras cores das florações, folhas e folhagens e informa também sobre as texturas, macias ou ásperas, miúdas ou graúdas, sobre os efeitos de lisura ou rugosidade, de brilho ou opacidade presentes em folhas e flores.
A visão acompanha a dança das ramagens e das copas ao vento. Encanta-se com o brilho do sol que aquece e ilumina, com a chuva que escurece e molha e também com a escuridão da noite, pontuada pelas luzes da lua e das estrelas.
Tato:
O tato opera de outro modo. Precisa do contato direto com os elementos naturais, de modo que perceba se sua temperatura é quente ou fria, se há rugosidade, lisura, aspereza, maciez ou dureza. 0 tato também informa sobre o calor do sol, a frescura da sombra e outras sensações.
Paladar:
Já o paladar possibilita conhecer os jardins de maneira diferente: faz a boca regalar com diversas frutas e flores comestíveis que povoam os espaços ajardinados. Permite saborear os temperos e as especiarias – que, colhidos frescos, enriquecem a comida – ou os chás e as infusões de folhas e sementes que acalmam ou estimulam.
Audição:
Tudo é som nos jardins. A audição faz conhecer o murmúrio das águas, o farfalhar das folhas, o sacudir dos ramos ao vento, o ruído do caminhar sobre pedriscos, o canto dos pássaros.
Olfato:
Também tudo atrai o olfato nas áreas ajardinadas, seja pelo cheiro das plantas no frescor da manhã, no cair da tarde ou em dia de chuva, seja pelo odor da grama recém cortada, pelas nuvens de perfumes que diversas flores, folhas, cascas e ramos podem exalar em vários momentos do dia e da noite.
Obviamente há cheiros mais agradáveis do que outros, de maneira que flores bastante perfumadas possibilitam caracterizar certos lugares de estar e caminhos ou mesmo formar jardins temáticos de aromas, que se transformam ao longo das estações do ano.
Mas todos esses recursos que pertencem à essência do paisagismo ganham melhor expressão apenas quando estão arranjados segundo alguns princípios, formando um espaço ( ver Essência do Paisagismo).
Referência: Livro Criando Paisagens – Benedito Abbud