Reutilização de Edifícios

Aproveitar e dar nova função

 

A ONDA DE DEMOLIÇÕES de edifícios históricos que varreu cidades de todo o mundo nas décadas de 1950 e

1960, e que continua no mundo em desenvolvimento (notavelmente na China) neste início de século levou à consolidação de movimentos empenhados em salvar nossa herança arquitetônica.

Entretanto, esperar que  se preservasse todo edifício de interesse histórico ou arquitetônico como uma espécie de extravagância, não seria realista.

Por outro lado, se fosse possível encontrar usos novos para edifícios antigos, eles teriam um futuro viável.

Além disso, a tendência no século XX foi demolir edifícios supérfluos e começar do zero.

No entanto, não foi sempre assim.

Começando na década de 1960, arquitetos compreensivos aprenderam a adaptar edifícios antigos e
ao mesmo tempo imbuí-los de uma nova e inesperada personalidade.

Na verdade, o novo uso muitas vezes conseguia ressaltar a personalidade de um prédio antigo, cujo propósito — como no caso de usinas de energia ou fábricas construídas no centro das cidades

— havia se tornado inaceitável para as gerações posteriores.

Um dos exemplos mais influentes de reutilização de um edifício antigo na década de 196 0 foi a conversão do Castel vecchio medieval,

Verona, em museu de arte (1956-1964 ) pelo arquiteto veneziano Carlo Scarpa.

De fato, Scarpa tinha um grande amor por materiais nobres e formas e superfícies arquitetônicas complexas.

Ele aprendeu usá-las de novas maneiras, de modo que o seu trabalho de restauração oferecia novas maneiras de viver em velhos edifícios.

No Museu Castelvecchio, a estrutura do velho castelo é respeitada juntamente com as “intervenções” do arquiteto.

Em outras palavras, havia uma pronunciada interação de velho e novo, e o resultado foi um museu de grande

distinção, a serviço não apenas das obras de arte em exposição, mas também do edifício e dos visitantes.

Consequentemente a iniciativa teve êxito e conquistou aclamação critica.

Para muitos arquitetos em todo o mundo, a obra apontava o caminho a seguir em nome da conservação inteligente.

Museu Castelvecchio

 

Museu D’Orsay

De modo similar, e também mais espetacular, a conversão da vistosa Gare d’Orsay, Paris, construída no estilo

Beaux-Arts, em Museu D’Orsay(1984-1986), pelo arquiteto milanês Gaia Aulenti ( nascido em 1931) foi outra

história de renovação bem sucedida da década de 1980.

A força do projeto é a evidente satisfação de Aulenti com o grande espaço processional de uma importante estação

ferroviária, com seu saguão extensamente envidraçado.

As novas galerias laterais  introduzidas de ponta a ponta do museu,  não interrompem, entretanto, o

fluxo principal e o espaço central.


Portanto, a arte exibida no Museu d’Orsay cobre o período de 1848-1914 e se ajusta perfeitamente aos grandiosos espaços dos interiores deliciosamente decadentes da antiga estação.

Ademais, o edifício original projetado por Victor Laloux (1850-1937 ) e sua inauguração coincidiu com a Exposição de Paris de 1900, um momento mais significativo na história da arte do que na história das ferrovias: foi ali que Braque e Picasso começaram a mergulhar na arte africana e outras artes “primitivas” e a iniciar experimentos que resultaria no cubismo.

Alguns dos edifícios urbanos mais grandiosos do século XX foram usinas de energia.

Elas eram construídas segundo uma variedade de estilos grandiloquentes por arquitetos que atuavam como consultores dos engenheiros que as construíam.

Portanto, a ideia era civilizar esses geradores de energia e transformá-los em templos de poder.

Duas das melhores usinas foram construídas às margens do Tâmisa, em Battersea ( 1 9 5 5 ) e Bankside ( 1 9 6 3 ), esta de frente para a catedral de São Paulo, do outro lado do rio.

Ambas ganharam perfis impressionantes e fachadas grandiosas de Sir Giles Gilbert Scott ( 1 8 8 0 – 1 9 6 0 ) , arquiteto da catedral de Liverpool  e da ponte de Waterloo.

E ambas tornaram-se redundantes no fim da década de 1970.
Embora Battersea tenha passado por vários proprietários, todos prometendo transformá-la em um centro de entretenimento mas, até agora, nada foi feito.
Por outro lado, Bankside teve mais sorte.

Foi transformada na Tate Modern (Galeria Tate de Arte Moderna, 1999) pelos arquitetos suíços Jacques Herzog (nascido em 1950) e Pierre de Meuron (nascido em 1950).

Isso envolveu a instalação de cinco pavimentos de galerias no lado do rio e a conversão do antigo salão de turbinas em um grande saguão e galeria para esculturas gigantescas e outros eventos.

Esta galeria é ligada à catedral de São Paulo por uma passarela projetada por Norman Foster com o escultor Anthony Caro e Chris Wise, engenheiro de Ove Arup and Partners.

O REICHSTAG

Por fim, Foster produziu uma das últimas grandes “remodelações” do século X X :

o Reichstag,Berlim originalmente 1884-1894, por Paul Wallot, 1 8 4 1 – 1 9 1 2 ) ,

o pesado edifício barroco que abrigou o parlamento do Segundo Reich. Após ser incendiado em 1933, esboroado pela batalha de Berlim em 1945, foi restaurado sem a cúpula para abrigar gabinetes do governo na década de 1960.

Foster descascou suas paredes e acrescentou uma grande câmara em forma de ferradura, encimada por uma cúpula de vidro aberta ao público.

Assim foi um caso em que um edifício encontrou uma versão modificada de seu papel original,

depois de testemunhar a ascensão e a queda do Segundo e do Terceiro Reich, da República de Weimar e da República Democrática Alemã.

 

 

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